sábado, 13 de fevereiro de 2010

Malditas malditas

Perdoem-me aqueles que vieram a este blog à procura de um texto mais sublime, de reflexões sobre as diferentes culturas e povos que estamos encontrando, de observações mais acuradas sobre o sentido do estranho & estrangeiro no país alheio. Isso, meu caro leitor, você não encontrará neste post.
Aliás, pensando em sua integridade e interesse, peço-lhes, com todo respeito que me é possível falar, que saiam deste blog e retornem em outro dia, pois o post que vem a seguir tem grande teor escatológico e detalhes não afeitos a moral e bons costumes.
Dizem todos os viajantes que conheci que viajar é dar-se a oportunidade de conhecer outras culturas, outros lugares, cruzar com pessoas interessantes e assim poder ver o mundo através de outros olhos. Estou de acordo que isso é verdade.
No entanto, também é verdade que viajar não é somente isso. Viajar vai além dessa simples descrição. Viajar também é, lamento a expressão, passar perrengue, e um dos perrengues que mais temos encontrado na viagem em geral, mas especialmente na Bolívia, é a sujeira. 
Mais uma vez peço desculpas àqueles que, mesmo avisados, seguiram lendo e, por coincidência ou não, são defensores das culturas por si só ou amantes da boliviana. A esses eu diria para simplesmente fecharem a página e não continuarem lendo, pois não quero ferir os brios de ninguém. O X vermelho no alto da página está para isso: para evitar eventuais dissabores.
Fato é, estimados(as) senhores(as), que as pulgas nos perseguem. Esses malditos animaizinhos saltitantes, parecidos a pontos negros, insistem em viver um pouco às nossas custas. Ou, melhor dito, à custa de nosso real sangue tupiniquim.


Nestes dois meses de viagem, já pegamos pulgas três vezes. A última, e mais resistente, foi aqui na Bolívia. O pior, porém, é que sabemos exatamente onde as pegamos, e esse lugar não foi na rua, nos ônibus que não têm banheiro e não param nunca para fazermos xixi nem nos parques. Nós as pegamos (eu especialmente) na cama do hostel internacional!
Logo que me deitei na primeira noite, já comecei a me coçar. Quando acordei no dia seguinte tinha sido devorado pelas famigeradas. Sempre munido do pó de santo de matar insetos, pulverizei-o na minha cama e dentro da minha mochila, com esperança de que na noite seguinte já não seria incomodado por esses bichos da peste.
Mas não, os infelizes, resistentes, seguiram devorando-me na noite seguinte, de forma que hoje estou completamente marcado pelas filhas do tinhão, as quais, mesmo com uma segunda pulverizada, mais feroz desta vez, continuam satisfazendo-se às minhas custas.
É calcanhar, dedo do pé, perna, braço, cintura... Fizeram a festa comigo e em mim.
Acabo de vir de mais um banho, o segundo em menos de 8 horas, e ainda sinto que a ou as danadas estão trabalhando arduamente. O problema, no entanto, é que, mesmo fazendo todo o esforço possível que sempre fiz para expurgá-las, sei que as coisas se complicam muito, pois talvez não seja a mesma que está me comendo, e sim outras, que vão fazendo rodízio comigo em cada rua, terminal de ônibus ou cama de hostel pelos quais vou passando em terras bolivarianas.
Hei de confessar, muito embora não queira, que a Bolívia é um pouco suja. Por onde se anda sente-se a sujeira, seja nas paredes, no chão, nos banheiros, na comida. Comer aqui é um processo lento e desconfiado. Só comemos coisas cozidas, nada fresco (nada de salada, infelizmente), não tomamos nada que possa conter água, pois usam água da torneira aqui, e essa mesma água não é potável nem especialmente limpa. Diria mais até: ao contrário do que dizem todos os químicos, de que a água não tem gosto nem cheiro, aqui ela tem tanto gosto como cheiro. Cheiro de Bolívia, é verdade. Um cheiro esquisito que só quem já veio sabe como é.
Apesar de tudo e de tanta escatologia, não digo que não esteja gostando da Bolívia. Estou apreciando a estadia e aprendendo com o choque cultural que sofri. A cada dia, um estranhamento, seja pelas maneiras, pelas pessoas, pelo trato dos bolivianos. Reconheço que não sei dizer ainda até que ponto estou gostando daqui. Tampouco sei até que ponto viajar é ter de gostar de onde se vai. Viajar talvez seja simplesmente experimentar, independentemente de se é bom ou ruim para aquele que experimenta.
Até descobrir isso, deixo aqui minhas sinceras desculpas pela eventual quebra de decoro blogueiro, assim como minha estima para com todos, mas sobretudo para com a Pachamama, a Mãe Terra dos quéchuas e aymarás.
Que ela nos abençoe a todos e que, por misericórdia, faça as malditas pulgas se satisfazerem logo, porque muita carne não tenho mais.



4 comentários:

Rafa disse...

Senhores Maikon e Camilo, aqui vai uma dica contra as marditas. Joguem sal nas camas, assim que vocês chegarem nos hóstels... Se isso funciona? La garantia soy jo ;-)

Anônimo disse...

Eso sucede a los dulces !!! Bon courage. Linda

Duim disse...

Duim e Camilão..

Tomem alcool potável e dorme que sara! hehehe... Mas a dica do sal é boa. Detalhe: espalhem embaixo do lençol, claro.
Beijo com saudades dos 2 presepeiros do meu coração.

Mariana Ariza disse...

Pulga eu não peguei... mas o cheirinho da Bolívia ainda não saiu completamente. Entendi perfeitamente o que escreveu!
BJs!