quinta-feira, 29 de maio de 2008

Carrocinha

A minha “não tão querida porém já apreciada” carrocinha foi-se embora. Ela não era linda, não era possante, não era nada de especial, mas era a minha carrocinha. Mais: além de minha, era única. De tão anciã, já tinha virado “highlandra” a bichinha.

Embora temperamental e difícil de lidar, a carrocinha possuía o seu charme. Mais que muita gente metida por aí (cada um sabe o nariz que tem). Não há o que negar: nos demos bem. Foi um bom mês e meio, quase dois, de convivência quase pacífica (nesse “quase” está implícito um ter querido espancá-la, destruí-la e jogá-la pela janela quando ela teimava em não me respeitar). Às vezes, se estava boazinha, ia que ia linda, faceira, cheia de ternura aonde quer que fosse. Fazia o que eu mandava, na ordem que eu queria. Tudo como manda o figurino.

Outras vezes, quando tinha começado o dia com o pé esquerdo (independente do dia, sempre levava de 10 a 15 minutos para pegar no tranco), a bicha se negava a absolutamente tudo. Não havia santo que a fizesse se mover ou sair de sua teimosia. Nessas horas, não me restava outra coisa que reclamar, praguejar e esperar a sua boa vontade.

No entanto, de tanto eu me queixar, a carrocinha foi substituída e enviada dessa para uma melhor. Espero eu que para o paraíso das carrocinhas. Agora, pois, estou turbinado: new carrocinha 2ª versão plus dasarábias! Mas a 1ª ainda mora no meu coração...

Descrição física da carrocinha antiga:

50cm de altura por 60cm de “fundura”;

2kg e lá vai fumaça;

cor de parede bege suja;

suja;

Pentium I!;

Windows 2000!;

e, o mais importante, fantásticos 256MB de RAM!!!

Digam lá se a carrocinha não era uma belezura de caixinha de computar?! Por mais que não conseguisse abrir internet e pedeéfes ao mesmo tempo, a calculadora e o Paint iam juntinhos supimpa sem travar. Bobeando, dava até para jogar paciência.

Ô não-saudade da minha carrocinha!


Obs.: de tanto eu chamar o meu ex-computador do trabalho de “carrocinha”, ela acabou até ficando conhecida por; o funcionário do setor da informática, quando chegou para trocá-la, disse: “É hoje o dia da carrocinha!”


sábado, 24 de maio de 2008

Paula Gomes esquina com Duque de Caxias

Este tem sido o meu endereço no último mês e pouco. Faz parte das mudanças dos últimos tempos. Da janela não vejo mais o varal do prédio, mas sim outras coisas, muitas outras coisas...

Além da Telabrix, empresa de "Molduras, teclas, poster's e espelhos" (escrito exatamente como está na placa) e dos dois pinheiros ao fundo, outras coisas acontecem na esquina da Paula Gomes com a Duque de Caxias.

Era uma vez, pois, um torto... Bar-boteco-balada que anima e desanima os desavisados. Anima porque provém aquela santa cervejinha do final do dia com um bolinho de carne pelo qual muito apreço tenho. Une os amigos, os não-amigos, os inimigos e os desconhecidos. A partir da quarta-feira, a quadra, especialmente os 30 metros da porta de casa até a esquina, vira cenário de baladinha. Com direito a tudo. Reúnem-se todos os tipos de pessoas: bêbados (os que mais comparecem), tiozões (los viejos verdes, que não deixam de fazer parte da categoria "bêbados"), trabalhadores em geral (todo e qualquer tipo de profissional), os módis, os emos, os poetas de balcão e os não de balcão, os roqueiros, os flevers, a galera do tubão, e a nova geração de wonkeiros, que vem fazer o esquenta no boteco da esquina antes de bater cartão ali na fábrica de chocolates (salve, salve Gene Wilder!).

Por outro lado, desanima porque, e isso só vê quem mora aqui na quadra e sai de manhã cedo, existe um depois de toda essa agitação noturna: bêbados jogados pela rua dormindo, garrafas de cerveja quebradas, um sem-fim de bitucas de cigarro, pedaços de comida, lixo em geral, vômito, roupas esquecidas. O cenário matinal é de um fim de batalha, onde até o espólio ignorado já foi levado.

Mas tudo isso, se "apreciado com moderação", deixa a quadra com um ar jovial, um ar portenho notívago bem-vindo. Aqui na Paula Gomes, voltando para casa de noite, chego a me sentir em Buenos Aires. Aquele povo pela rua conversando, rindo, vivendo a rua como um espaço seu, coisa que no Brasil poucas vezes vi. A Paula Gomes com Duque de Caxias, para mim, é quase como uma miniatura da minha tão querida Caballito. Ai minha Caballito! Aliás, quarta-feira conheci por acaso um ex-morador de Caballito perdido aqui em Curitiba.

Também há as figuras carimbadas da quadra: o varredor de rua que sempre me cumprimenta, as putas do puterinho da região que nunca vi mas sei que estão lá; os tiozões do estacionamento da quadra, que passam o dia jogando baralho; os outros da mercearia portuguesa, que passam a vida a tomar cerveja e cultivar a pança; a moça do lado de casa, que mora debaixo da igrejinha e vive brincando com a filhinha na calçada; e os dois moradores de rua que moram na esquina da Duque com a Paula (um em uma esquina, outro na outra).

A Paula com a Duque é, pois, a minha Vallese con Acoyte atual.



sábado, 17 de maio de 2008

11h12

Fico me perguntando em que consiste uma aventura. Preciso ir a lugares distantes e exóticos para dizer que tive uma aventura? Preciso viver um grande amor? Preciso ter feito algo de extraordinário e único? Seria necessário tudo isso junto, uma dessas coisas ou nenhuma delas?

A teoria da literatura, falando bem superficialmente e como aquele que matou aula muitas vezes, diz que são necessárias algumas coisas para haver ficção: ação, cenário, personagens e um narrador. Na ação, que se leia conflitos, problemas e afins. Em cenário, que se leia um lugar, seja qual for. Nos personagens, que não se leia nada. "Personagem" já diz tudo, porra. Em narrador, que se leia alguém que conte a história, seja um narrador onisciente em terceira pessoa ou um personagem em primeira.

Tendo em visto esses fatores, apresento aos senhores:

Ação: movimentos sísmicos da minha crescente barriguinha.
Cenário: meu trampo às 11h12.
Personagem: minha barriga, chamada doravante de Pança, e cheiro de comida de mãe, chamado doravante de Cheirinho.
Narrador: este que vos fala.

Vamos, então, ao que viemos.

Era uma vez Pança sentada em sua cadeira de trabalho, às 11h12. Já vinha cumprindo expediente vazia desde 8h. Às 10h12, deu uma roncada, levantou-se, roubou bolacha do vizinho e se acalmou novamente.

Até que, às 11h12, teve início o seu sofrimento. Do edifício vizinho, do apartamento que dá justamente na janela da sala onde trabalha Pança, Cheirinho começou a se fazer sentir. Num primeiro momento não era completamente distinguível, mas foi sendo-o aos poucos: um feijãozinho com paio, arroz branco, franguinho feito na chapa com salsinha e alecrim... Hum... perdição.

Pança, sem saber muito bem o que fazer, tentou se controlar. Em vão. Cheirinho, aparentemente notando essa estratégia de defesa de Pança, intensificou-se. Pança simplesmente foi ao delírio. Começou a se debater quase que ferozmente. A gula tinha-lhe descido pela garganta e o dominava quase por completo. O que fazer? Pança, acreditador do autocontrole e do poder da mente, que não tem, quis impor sua não-vontade de se devorar e tentou resistir aos feitiços de Cheirinho.

Todavia, acabou sucumbindo. Os 48 minutos que antecederam a saída de Pança do trabalho foram quase intermináveis e seu ataque ao buffet mais próximo digno de nota dos melhores comentadores da História.

Ainda bem que o VR diário de Pança é de R$10,00.

Obs.: apesar de tudo indicar o contrário, a balança da farmácia da esquina me disse isso ontem que continuo sendo o felicíssimo possuidor dos meus 69 quilinhos, pesados inclusive depois de um fatídico almoço livre no Sorella (bucho cheiíssimo) e com roupa!



segunda-feira, 12 de maio de 2008

Preenchendo o espaço em branco

Há tempos Bons Ares não sabe exatamente o que dizer. Pensa, pensa, mas acaba se coçando. Por vezes Bons Ares é tomado de uma coragem danada, só que acaba culminando em bocejos, dor nas costas e nenhum texto escrito. O máximo que Bons Ares anda fazendo é sentar-se na frente do computador, entrar na página em branco do blog e não conseguir escrever nada. Uns pensam que Bons Ares está em crise. Outros afirmam que é tão-somente aquele vento encanado que espanta as boas idéias. É por isso que Bons Ares resolveu simplesmente sentar e escrever. O que viesse!

A vida vai indo, digamos assim. Com algumas mudanças. Mudança de país, mudança de status, mudança de casa, mudança de trabalho... O bom e velho Little Horse ficou para trás e deu lugar ao São Francisco, atual residência de Bons Ares (deveria, então, este blog se chamar Saint Francis ou Muito Pinhão?). Não seria uma má idéia. No entanto, optamos por não mudar nada. Em time que está ganhando não se mexe, mesmo que ele não esteja ganhando.

Bons Ares tem seus leitores. Não se sabe se são poucos ou não. Um post já foi publicado sobre isso. Alguns, sempre presentes, continuam deixando sua marca e mijando no "post" de Bons Ares. Outros entram, lêem e vão embora sem deixar rastro. Estariam de fato lendo? No final das contas, não é disso que se trata!

De qualquer forma, Bons Ares está aí. Um dia após o outro em busca de bravatas e presepadas. Elas estão se tornando cada vez mais rebuscadas. De uma bagaceira se tornaram encontro de queijos e vinhos com direito a truco sujo, demonstrações de ciúmes, cabras vomitando e gente voltando para casa trupicando. Nada que corações mais fortes não possam suportar.

Ao mesmo tempo, Bons Ares está fazendo planos. Não sabe ainda quais, mas está fazendo. O tempo dirá.

Fato é que os antagonistas de Bons Ares estão em falta. Onde estarão Pato-Perro, os morcegos voadores e os outros tantos inimigos que bravamente enfrentamos sem perder uma gota de sangue? Dizem que morcego não tem vez no São Francisco. Coisa do vampiro do Trevisan. Vai saber.

Diversões: Bons Ares tem tomado vinho, escrevinhado e comido cachorro-quente, o que tem contribuído para a não-forma deste que vos fala.

Que dizer disso tudo? Pois não sei... Digam os senhores.