"Uma saboneteira?", pensa Salabim em dúvida.
"Yep, sir.", respondo eu olhando para a cara de dúvida de Salabim. "Tudo o que eu quero é uma simplória saboneteira."
"Mas, meu caro, por que cargas d'água você quer uma saboneteira? Você pode pedir o que quiser e pede uma saboneteira?", pergunta Salabim muito intrigado com o meu pedido.
"Pois eu vou lhe responder, vossa magiência senhor Salabim.", digo eu. "A questão é que não suporto mais tomar banho neste banheiro do djanho e não ter onde pôr o meu sabonete."
"Como? Explique-me melhor tudo isso.", disse Salabim com um tom psicanalítico.
"O fato é que, durante este carnaval do bom Dionísio, o qual estou passando aqui no festival P*, reduto de todos os loucos psicodélicos uivantes deste planeta sem dono, estou tendo de tomar banho nestes banheiros do cão, onde só tem água quente de noite, onde ou tenho que fazer uma hora de fila para tomar banho em horário de bom cristão ou sou obrigado a tomar banho às 4h da madruga, onde não posso nem olhar para o piso porque corro o risco de encontrar de tudo neste mundo, inclusive camisinha já usada cheia de porra, o que de fato já aconteceu, onde tenho que suportar uma série de outras provações para fazer valer a querida saboneteira que tenho em casa, assim como o box, a toalha seca pendurada no suporte e outros pequeninos utensílios do banheiro.
"Hum...", muge Salabim.
"Hum... nada, meu caro. É dose mesmo... Fosse o senhor, vossa magiência Salabim, no meu lugar, não sei o que seria."
"Mas é tão sério assim a situação toda?", pergunta Salabim.
"Se é, caríssimo!", respondo eu. "Isso que nem elenquei para o senhor todas as outras barbaridas pelas quais eu e muitos outros temos que passar: cidadão que chega, abre o porta-mala do seu carro e põe Janis Joplin no talo às 4h da manhã; cidadão que começa a berrar do lado da sua barraca empolgado pelo fato de o outro cidadão ter posto Janis; cidadão que passa correndo e incita todos os outros loucos a cantarem Janis com ele; cidadão que, às 6h15 da manhã, esperançoso de se comunicar, começa a uivar e fica esperando, do alto da colina, que todos os outros loucos de plantão, cuja maioria ainda nem foi dormir, o acompanhem neste gesto diferenciado de comunicação; cidadão que, às 6h30 da manhã, enquanto você caminha para tomar banho neste mesmo banheiro do djanho onde não há saboneteira, convida você a tomar um trago e cantar Raulzito com ele..."
"Hum..."
"Agora, senhor Salabim, o senhor entende por que, de todas as coisas que eu posso pedir neste mundo, uma saboneteira é a mais importante delas? Qualquer outra coisa que eu pedisse ou a soma de dinheiro qualquer não faria nenhuma diferença aqui. Não aqui e agora."
"Pois, meu caro reclamão, Salabim não lhe dará nenhuma saboneteira. Quem mandou vir para cá? Tivesse ficado em casa..."
É então que sou despertado pela água fria que começa a sair do chuveiro, quando devia estar quentinha. E eu que estava esperando tanto por esse banho...
Sim, não há mais dúvidas sobre isso: eu estou ficando velho!