segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Coisas que a gente faz na intimidade do banheiro

"Sim, Salabim, traz uma saboneteira para mim!", desejo eu desesperado.

"Uma saboneteira?", pensa Salabim em dúvida.

"Yep, sir.", respondo eu olhando para a cara de dúvida de Salabim. "Tudo o que eu quero é uma simplória saboneteira."

"Mas, meu caro, por que cargas d'água você quer uma saboneteira? Você pode pedir o que quiser e pede uma saboneteira?", pergunta Salabim muito intrigado com o meu pedido.

"Pois eu vou lhe responder, vossa magiência senhor Salabim.", digo eu. "A questão é que não suporto mais tomar banho neste banheiro do djanho e não ter onde pôr o meu sabonete."

"Como? Explique-me melhor tudo isso.", disse Salabim com um tom psicanalítico.

"O fato é que, durante este carnaval do bom Dionísio, o qual estou passando aqui no festival P*, reduto de todos os loucos psicodélicos uivantes deste planeta sem dono, estou tendo de tomar banho nestes banheiros do cão, onde só tem água quente de noite, onde ou tenho que fazer uma hora de fila para tomar banho em horário de bom cristão ou sou obrigado a tomar banho às 4h da madruga, onde não posso nem olhar para o piso porque corro o risco de encontrar de tudo neste mundo, inclusive camisinha já usada cheia de porra, o que de fato já aconteceu, onde tenho que suportar uma série de outras provações para fazer valer a querida saboneteira que tenho em casa, assim como o box, a toalha seca pendurada no suporte e outros pequeninos utensílios do banheiro.

"Hum...", muge Salabim.

"Hum... nada, meu caro. É dose mesmo... Fosse o senhor, vossa magiência Salabim, no meu lugar, não sei o que seria."

"Mas é tão sério assim a situação toda?", pergunta Salabim.

"Se é, caríssimo!", respondo eu. "Isso que nem elenquei para o senhor todas as outras barbaridas pelas quais eu e muitos outros temos que passar: cidadão que chega, abre o porta-mala do seu carro e põe Janis Joplin no talo às 4h da manhã; cidadão que começa a berrar do lado da sua barraca empolgado pelo fato de o outro cidadão ter posto Janis; cidadão que passa correndo e incita todos os outros loucos a cantarem Janis com ele; cidadão que, às 6h15 da manhã, esperançoso de se comunicar, começa a uivar e fica esperando, do alto da colina, que todos os outros loucos de plantão, cuja maioria ainda nem foi dormir, o acompanhem neste gesto diferenciado de comunicação; cidadão que, às 6h30 da manhã, enquanto você caminha para tomar banho neste mesmo banheiro do djanho onde não há saboneteira, convida você a tomar um trago e cantar Raulzito com ele..."

"Hum..."

"Agora, senhor Salabim, o senhor entende por que, de todas as coisas que eu posso pedir neste mundo, uma saboneteira é a mais importante delas? Qualquer outra coisa que eu pedisse ou a soma de dinheiro qualquer não faria nenhuma diferença aqui. Não aqui e agora."

"Pois, meu caro reclamão, Salabim não lhe dará nenhuma saboneteira. Quem mandou vir para cá? Tivesse ficado em casa..."

É então que sou despertado pela água fria que começa a sair do chuveiro, quando devia estar quentinha. E eu que estava esperando tanto por esse banho...

Sim, não há mais dúvidas sobre isso: eu estou ficando velho!



quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Boletim de Ocorrência/Queixa n°57689

Curitiba, 16 de fevereiro de 2008.

No dia de hoje, Maikon Augusto Delgado (26), possuidor de RG e CPF devidamente apresentados e comprovados, compareceu à 3ª Delegacia de Improprérios e Inverdades, situada na Rua dos Bobos, n° 0, e deu queixa contra Camilo Werner González, chamado pelo declarante de "meliante" e doravante neste documento como "acusado".

Segundo consta a prova apresentada (impressão de correio eletrônico recebido do impropreriante), o declarante teria sido acusado injustamente de "vadio" e "não-partícipe das bizarrices do mundo". O referido correio eletrônico, anexado a este processo a título de clareza, faz-se dito nas linhas abaixo:

estimados ana-abuelita, ana-carol e ana-bruno (digo, bruno!)

tradicionalmente, se bem ando um pouco avesso a essas tradições ultimamente, envio a maikon-mad-magoo mail com link para algum fato bizarro de nosso mundo que encontro em jornais mundo afora (os titulos desse mail são sempre o mesmo: our freek world)

em tempos gloriosos (leia-se, quando o bonsares postava como uma fabrica de fosforos emite fumaça) quase todo dia havia novo fato bizzaro. alias, por muito havia mais bizarisses do que noticias do blog. mas enfim...

fato é que acabo de me deparar com a noticia de um professor de universidade analfabeto! e, em seguida, com um anao indiano alterofilista!

em duas palavras: im-pressionante!

riam vcs tb em primera mão (a gente nunca sabe qdo o magoo vai colocar isso no blog.... alias, lembra do blog magoo?)
http://oglobo.globo.com/blogs/moreira/

saudações das 15h22 da tarde


Ultrajado, o declarante decidiu-se por denunciar o acusado e assim proteger-se, sob o augúrio da lei, de quaisquer crimes pelos quais possa ser incriminado futuramente. O mesmo declarante admite ser vingativo e disse, ipsis litteris, "...que sua vingança será maligna!". Como foi o primeiro a prestar queixa neste órgão governamental, o declarante, a saber Maikon Augusto Delgado, possui a proteção legal do artigo 45 da Constituição Desfederal de Assuntos Aleatórios e Desimportantes, § 3, e vê-se completamente exonerado de qualquer culpa referente a quaisquer outras acusações, de parte do acusado, e das acusações que fará contra o acusado. Tendo isto em vista, declarou o declarante:

De tudo o que ele me acusou, o pior foi o de "vadio". Aquele meliante, o qual não quero nomear por respeito ao ouvido do cão-tinhoso, afirmou que eu não lembrava mais do Blog Bons Ares e que não postava mais. Discordo em gênero, número e grau. E trouxe aqui para o senhor, senhor escriturário, a prova de que estou em dia com as minhas obrigações de pobre escrevinhador de coisas mundanas...

O declarante, exaltado, apresentou as outras provas que trouxera, elencadas a seguir: "Ai, Santo Grambel", postagem do dia 15 de fevereiro de 2008; "O jeito catarina de comprar macarrão", postagem do dia 7 de fevereiro de 2008; "Um dia de *m", postagem do dia 29 de janeiro de 2008; "Vossuncê tumém qué?", postagem do dia 24 de janeiro de 2008; "Butucaland", postagem do dia 19 de janeiro; "Quem disse que o bom de chuva é se molhar?", postagem do dia 13 de janeiro; "A volta daquele que vive querendo ir embora", postagem do dia 7 de janeiro de 2008. Afora as mais de 100 (cem) outras postagens que o declarante apresentou em sua defesa, escritas ao longo da vida útil do blog Bons Ares. O declarante continuou, pois:

E veja bem, meu senhor, se há cabimento numa coisa dessas. Tamanha injustiça contra a minha pessoa, que mal nenhum fez àquele meliante salafrário. E isso porque não quero entrar no mérito maior da vadiagem. O mesmo meliante, no começo do e-mail que me mandou, já afirma que "anda um pouco avesso a essas tradições ultimamente", o que me dá mais que margem de me defender dizendo que, ao passo que estou lá na labuta tirando histórias de pedras, lá está ele, perdoe-me a palavra, rascándose las pelotas às 15h22 da tarde, quando devia estar trabalhando, o que, a meu ver, é sinal inconstestável de vadiagem.

Mas não termino por aí. Porque ainda fui injustamente acusado de "não-partícipe das bizarrices do mundo". Disse o meliante que não posto mais a bizarrices que ele coleta na internet enquanto
se rasca las pelotas. No entanto, como ele mesmo afirmou, tem sido pouco avesso a essas tradições, o que comprova o fato de que o já mil vezes citado meliante não tem fornecido bizarrices ao blog, de forma que fica mais uma vez comprovado, na minha opinião, que o vadio é ele.

Além disso, ainda me manda um link de bizarrice de um professor universitário analfabeto, quando ele próprio, e aqui reincorporo o papel de Fiscal da Censura, que deveria ser uma obrigação do meliante, e o de Protetor dos Bons Costumes e da Boa Gramática, minha função sempre exercida, e impropero contra "o já mil vezes citado", já que seus erros de gramática, no e-mail, são inúmeros. Elenco: não põe maiúscula nas palavras, não acentua, não distingue verbo de substantivo e, para coroar, me escreve bizarrice com dois S, ou então com dois Z e um R. Um crime, meu caro senhor escriturário, um crime inafiançável.

De fato, "bizarrice" com dois S é crime e está descrito no artigo 5 do Código Penal dos Bons Costumes Gramaticais.

Não bastasse isso, excelência senhor escriturário, o meliante não faz bom uso das conjunções, as quais tenho certeza que não sabe reconhecer.

Para terminar e comprovar que não sou um "não-partícipe das bizarrices do mundo", tendo em vista que já provei que não sou vadio, afirmo que sou amigo do Zunga, e que isso já é mais que motivo para me fazer um amante dos seres gubúguicos e bizarros deste mundo, além do fato de suportar, durante longas períodos de tempo, o meliante cantando MC Catraca.

Findo o pronunciamento do declarante, dou fé e tenho dito.

Ass.: João Manuel Esteves Fonseca (escriturário da 3ª Delegacia de Impropérios e Inverdades).


A MINHA VINGANÇA SERÁ MALIGNA!



sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Ai, Santo Grambel...

DDD 13, DDD 75, DDD 89, DDD 92, DDD 56, DDD 34, DDD 26, DDD 45... Eu, que nunca tinha ligado para nenhum lugar com esses DDDs antes, hoje fiz coleção. Um amigo de outras freguesias me pediu uma ajuda "nuns trens" dele e fui eu lá dar-lhe uma força e tomar um cafezinho acompanhado de bolo. Minha tarefa: fazer um levantamento de uma série de informações Brasil adentro (ou seria afora? vai saber!). E dá-lhe eu no telefone, discando aquela montoeira de números e falando com seres tupiniquins dos mais diferentes sotaques.

Desprevenido que estava eu, fui pegando o brinquedinho de se falar, comecinho da manhã, e mandando um 71 no grambel. Primeira ligação do dia. Só foi o cidadão que me atendeu soltando a dita: "Arre, bom dia!". E mais depois emendou: "Ô rapá, guente um pouquinho que já lhe avejo isso!". Muito embora ele não tivesse conseguido responder nenhuma das minhas perguntas, com que satisfação que eu desliguei o telefone! Só o sotaque e a prontidão do sujeito já tinham valido aquela ligação tão cara.

Entusiasmado, encarei o segundo telefonema do dia. Emendei um 85 no grambel e foi só alegria. Depois de um pouco de conversa, meu interlocutor solta a seguinte: "Marrapanhinho, que pergunta porreta que tu me fez, num sabe?". Satisfação demais, sô.

Já lá pelas tantas, passada a décima quinta ligação da manhã, DDD 75, uma mulher me atende do seguinte jeito: "Diga, meu amooor, o que é que você quer?". Mas ela falou com tanto carinho comigo, com tanta afeição que não pude pensar em outra coisa que no fato de como a informalidade é regra nesse Brasilzão véio sem porteira.

Foi aí que liguei para um 90 e poucos. Cu do mundo mesmo. Um tantinho de conversa e a menina que tinha me atendido, de quem eu já meio que sabia da vida toda, me disse: "Oxe, seu sinhô, vou te passar para alguém mais sabidurido que possa te ajudar..." Sabidurido? Satisfação, satisfação!

Nas horas seguintes, foi só uma avalanche de "satisfações":

"Oxe, bichim, de tão longe qu'ocê tá ligando?"

"Ai, estimado, não desligue não!"

"Ai, diga assim não, que até tô avexada com tua simpatia..."

Eu, educado que fui pela minha santa mãezinha, tive que agradecer, né?



quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

O jeito catarina de comprar macarrão

Façamos um rápido exercício mental: imagine-se comprando macarrão. Como seria? Acho que 99% de vocês diriam que se imaginariam indo ao mercado, dirigindo-se à seção de massas e afins, que se veriam de pé na frente da prateleira de macarrões escolhendo aquele da sua preferência (uns vão pelo preço, outros também). Uma vez escolhido o dito cujo, vocês o pegariam, o jogariam no carrinho e iriam em direção ao caixa. Poriam o pacote sobre a esteira, a caixa o passaria pelo detector de rótulos, sairia o preço na telinha do computador, ela o jogaria para o final da esteira, onde vocês, muito solícitos, o colocariam dentro de uma bolsinha plástica e o jogariam novamente no carrinho.

Se não me enganei, muito provavelmente essa é a maneira que muitos de vocês se imaginariam comprando macarrão.

Aqui em Navegantes, no entanto, existe uma outra maneira de comprar macarrão. Você não precisa ir necessariamente ao mercado. É o macarrão que vem até você. Sim, senhores. Se Maomé não vai até a montanha, então a montanha vem até Maomé. Ou, em outras palavras, o macarrão vem até vocês. Fantástico, não? Eu pelo menos achei.

Imaginemos, pois, a minha pessoa, que, por incrível que possa parecer, está emagrecendo, acordando às 7h30 em uma terça-feira nublada e chuvosa. Me levanto, me espreguiço e tomo uma ducha para acordar (hábito meu adquirido desde muito). Já limpo, vou à cozinha, esquento água e passo um cafezinho para mim mesmo. Me preparo um pão no Tostex (alguém sabe o nome verdadeiro desse eletrodoméstico abençoado por Deus e bonito por natureza?) e me sento na varanda para tomar o meu café-da-manhã. A chuva continua caindo, molhando a grama, que exala já aquele cheiro de terra molhada.

De repente, no mesmo momento em que eu estava abocanhando um pedaço generoso de pão com mortadela catarina (a melhor do mundo!), uma moto pára na frente do portão. O motoqueiro dá uma buzinada e fica olhando para mim com cara de quem quer ser atendido. Eu, que não o conheço, me levanto muito matreiramente da cadeira e grito: “Opa!”. O motoqueiro me opeia também e, gritando desde o portão, me pergunta se quero comprar algo. Eu lhe pergunto o que ele tem para oferecer, e ele responde, ainda gritando, que tem tudo fresquinho ali na garupa, desde pão a macarrão, passando por nhoque, lasanha e afins. Quê?, penso lá eu com os meus próprios botões. Ouvi certo? Tem um motoqueiro na frente de casa, às 7h55 da manhã, debaixo de chuva, perguntando se eu quero comprar macarrão fresquinho? Caraio!

E de fato tudo isso estava acontecendo e a minha mente não estava me pregando uma peça. Respondo que muito obrigado, que eu não queria nada, mas não deixo de ficar surpreso com o acontecido. Muito embora eu seja catarinense de nascimento e de coração, não posso deixar de dizer que os catarinas são uns bichos muitos estranhos...

Obs.: Parsa Brusquense, por mais que eu não saiba direito por que, isso tudo me fez lembrar muito de ti.