O réveillon foi e 2009 chegou. Como de praxe, acordei cedo e fui tomar o meu café-da-manhã. Nada como o prazer de um cafezinho recém-coado ao acordar. Camilo, o eterno preguiçoso e dorminhoco, acordou pouco depois.
Nos despedimos dos amigos que fizemos na noite anterior, fizemos nosso checkout e pé na estrada. Novamente!
Viajar é genial. Faz com que você quebre sua rotina, veja o seu quotidiano (que ficou para trás) com outros olhos, reflita sobre prioridade e ainda chachoalha sua vida. Não me lembro de nenhuma viagem grande que tenha feito da qual não tenha voltado com alguma decisão importante. Nem que seja a de parar de querer voltar com decisões importantes...
Por mais que fosse 1° de janeiro e tivéssemos festado na noite anterior, a comichão de cair na estrada era maior. Nosso objetivo para o final do dia era chegar a La Pedrera, onde tínhamos reserva. Fomos tranquilos e calmos, desbravando as estradas.
Seguimos pela costeira atravessando José Ignacio até a Laguna Garzón. Já nos tinham dito que havia um ferryboat que fazia a travessia. Deixando-nos guiar pelas placas (artigo raro no Uruguai), nós o encontramos sem problema. A questão, porém, é o que encontramos. Confesso que estava esperando um ferry à la Itajaí-Navegantes e não uma balsa com lotação para dois veículos. Apesar da aparente frustração, fiquei contente. Gosto dessas coisas mais rústicas. É mais charmoso.
Desde a lagoa já pudemos notar que a vegetação dali em diante ia ser bem diferente, pelo menos na região próxima ao mar. Nada de pampas e alguns cerros esparsos. Abundariam areia em larga escala e dunas.
Continuamos por uma estradinha de chão batido por vários quilômetros. À direita, restinga, areial e praia. À esquerda, lagoa.
No mapa, depois da Garzón, havia outra lagoa, a de Rocha, pela qual pensamos que também poderíamos cruzar via balsa. Mandamos bala na estradinha, que cada vez ficava mais esburaca e estreita.
Lá pelas tantas, cruzamos com um carro brazuca no acostamento. Pneu furado. Solidários e de bom humor, paramos para ajudá-los. Conversando, contaram-nos que o pneu deles tinha furado justamente porque tinham insistido em seguir por essa estradinha até encontrar a segunda balsa, que, segundo eles, não existia. Nos despedimos e, cheios de teimosia (confesso que queria desbravar aquelas paragens) fomos adiante.
Uns cinco quilômetros para frente chegamos à conclusão de que, além de se tornar impraticável o trajeto (só com jipão), eles tinham razão: não devia de ter nada para lá.
Voltamos até uma bifurcação por que tínhamos passado e viramos à direita. Aquilo, senhores, era uma BR uruguaia. O pavimento, comparado à buraqueira anterior, era melhor, mas continuava ruim. Nós, que vínhamos devagar, algumas vezes fomos ultrapassados a toda velocidade por caminhonetes de nativos.
A volta que essa estrada dava era tão grande que fomos cair na ruta 9. Já com alguma parca sinalização, pegamos o caminho tradicional para La Paloma, praia vizinha à La Pedrera.
Em La Paloma, demos um rolezinho pela praia, visitamos o farol e seguimos em frente rumo a La Pedrera. Enquanto as praias de Punta e arredores são só badalação, as de La Paloma e La Pedrera são mais roots, o que combina mais com a minha pessoa.
Nos instalamos no hostel e fomos direto para a praia. Camilo, claro, a dormir; eu a ler. Alguém nessa história toda tem que usar a cabeça para outra coisa que não seja sustentar o chapéu...
O uso da praia, no Uruguai, é bem distinta da maneira brasileira. Lá, a mulherada não fica só jogada de bunda para cima tomando sol e os homens passeando para lá e para cá só de sunguinha mostrando seu corpo e tentando comer quem bobear. No Uruguai, é claro, também há isso, mas muito menos. Muita gente vai para a praia em grupos de amigos e ficam tomando mate, conversando e curtindo-se. Se estão com vontade, ficam de camisa, calça ou o que for e ninguém acha isso estranho. Achei bem mais sossegado. Fora que o imperativo "tenho que mostrar meu corpo sarado" não tem lugar. E como não tenho corpo sarado...
De lá, com o vento frio já cortando quem estava desabrigado, voltamos para o hostel, tomamos banho e ficamos por lá interagindo. Primeiro nos sentamos nos jardim, com uma cervejinha Zillertal jogando mancala. Como esfriou muito, entramos. Não levou muito tempo, graças ao tabuleiro, para virarmos o centro das atenções e emplacarmos umas amizades. Al rato estávamos sentados numa mesona com três uruguaias e dois argentinos conversando sobre futebol, década de 80 e os hits da infância na América Latina.
Mais à noite, jantamos empanadas, feitas artesanalmente (incluindo a massa) pelo cozinheiro do hostel, que durante o dia era instrutor de surf. Cerveja vai, conversa vem, a noite foi passando só na charla...
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