Com o fim do ano e a festa de réveillon chegando, Camilo estava mais que empolgado. Vai gostar de festa assim lá na China. Eu, já mais no meu estilo tranki, estava animado, pero no mucho.
De pança cheia, entramos no Gonza e partimos novamente rumo a Punta del Este, mas dessa vez não pela BR/UY e sim pelas estradinhas praianas beira-mar.
Antes, porém, resolvemos voltar um tantinho para o lado de Montevideo e fazermos uma visita a dois lugares: o Castillo de Piria e o Castillo de Pittamiglio. Como é que é: castelos em plenas praias do Uruguai? Sim, castelos, e dos mais estranhos. Existe, em tese, uma explicação para o fato de estarem lá, mas nem o Camilo nem eu a achamos plausível.
A história é a seguinte. Diz a lenda, e os anais históricos mal-escritos do Uruguai, que um certo Fernando Juan Santiago Francisco María Piria de Grossi, aka Piria, filho de descendentes genoveses pobres, retornou à Itália ainda criança para estudar. Quando voltou, ainda pobre, para o Uruguai, entrou no exército e fez carreira como arrematador (vai saber!). Isso em 1853. Em 1866 se casa com Magdalena Rodino e tem uma penca de bacuris.
Até que, e é aqui que a história não encaixa, em 1890, 24 anos depois, compra, não se sabe com que dinheiro, uma propriedade de uns 2000 hectares na região onde hoje é Piriápolis. Eu e o Camilo, quando ouvimos essa história pela primeira vez, já desconfiamos, mas foi ao entrar no Castillo de Piria (atual museu em homenagem ao proprietário/fundador de Piriápolis e região) que nos demos conta de que tudo isso está mais para maracutaia que qualquer outra coisa. Se o cara era tão pobre e ainda voltou tão pobre quanto da Itália, seria possível um filho de imigrantes, em 26 anos, ter conseguido dinheiro para comprar quase 1/5 do país? E se conseguiu só trabalhando, foi fazendo o quê? Sem explicação. Só os criadores do Google seriam capazes de tal façanha.
Fato é que, puxando conversa com a guia, que só sabia o básico da história do Piria, descobrimos que ele era maçom (não sei até onde isso poderia dizer alguma coisa) e meio que alquimista. Digo "meio que alquimista" porque não sei até que ponto alguém pode ser alquimista no final do século XIX. E o que diabos fazia um alquimista nessa época? Mais um dado importante: Piria era amigo do tal do Pittamiglio, dono do outro castelo, citado acima, com quem mantinha uma amizade, palavras da guia, misteriosa.
De mistério, para mim, já basta os livros policiais que adoro. Sendo assim, para não ficarmos com essa pulga atrás da orelha, criamos uma versão nossa para todo o imbróglio: Piria, os maçons, os alquimistas dos pampas latino-americanos e o Pink & Cérebro, todos juntos, estavam tentando conquistar o mundo. Falharam nas dimensões. Conseguiram uma boa parte do Uruguai, hoje em dia a mais rica, mas não chegaram ao mundo.
Outro dado interessante e que nos fez pensar era no dinheiro que esse Piria, e por conseguinte seus descendentes, teriam. Olhem que coisa estranha: parece que, após a morte do Piria, a família deixou de pagar vários impostos para o Estado, a tal ponto que chegou um momento em que perderam todos os bens que tinham! Cumé? Para mim, quase impossível? Tem que ser muito, mas muito idiota para conseguir perder 1/5 do país por conta de não pagar impostos e taxas... Muito estranho!
De qualquer forma, fomos visitar o Castillo de Piria, que, além de maçom e alquimista, também era megalômano. Quem, em sã consciência, constrói um castelo para si, sendo que ele seria só a sua residência de campo? Outro detalhe: só a caballariza (estábulo e adjacências) do cara era quase uma cidade!
De lá, aproveitamos o embalo e fomos dar uma olhada no outro castelo da região, o do Pittamiglio. Mais estranho ainda! Não só por ser um castelo em meio aos cerros, mas também por ser, segundo dizem, de arquitetura alquimista (não me perguntem o que isso significa). De fato, são traços bem estranhos.
O Castillo de Pittamiglio, além da estranheza, também está interditado ao público por sabe-se lá qual razão. O fato é que dizem que se você quiser entrar escondido vai levar chumbinho nas orelhas. Preferimos não correr o risco.
Pegamos novamente as estradinhas litorâneas rumo a Punta del Este. Passamos por dezenas de praias e um sem-fim depuntas, uma mais linda que a outra.
O último dia do ano foi, para nós, o que mais rendeu em termos de turismo. Fomos a inúmeros lugares, no melhor e mais autêntico estilo road trip.
Também passeamos por umas praias de altíssimo nível, altamente luxuosas. Se você, incauto viajante, quando foi a Punta del Este se impressionou com a riqueza e achou que todos os ricos do sul do mundo têm apartamento lá, você se enganou. Os ricos têm casa nessas prainhas a que fomos. Realmente uma coisa sem noção. Um daqueles ricos com certeza gastou mais dinheiro na casa dele de praia do que todos os moradores de um bairro de Curitiba gastaram para construir e equipar suas casas em um quarteirão. Assombroso.
Querendo aproveitar a chance e tirar uma graninha como paparazzi, tentamos fazer uns clicks exclusivos das celebridades que nem conhecíamos, mas até hoje ainda não conseguimos vender para a Caras nenhuma foto.
Rolê vai, rolê vem, chegamos em Punta, passamos pelos ricos e nos dirigimos a José Ignácio, passando pela peculiaríssima ponte que separa os dois municípios.
Chegamos ao hostel quase de noite. Fizemos checkin, nos instalamos e fomos tomar um matezinho na varanda do hostel e interagir com a galera. Conhecemos gente de tudo quanto é lugar na noite de 31, mas os mais gente fina foram um casal de cariocas que estavam fazendo Rio-Uruguai-Santiago de carro! Muitos, mas muitos quilômetros rodados.
Nos incluímos para a janta do hostel de Ano Novo, que, é preciso dizer, foi uma enganação, e ficamos lá tomando cerveja e conversando de viagens com o casal.
Aproximando-nos da virada, distribuíram cidra para todos e brindamos com todos os gringos que havia (americanos, australianos, canadenses, argentinos e cariocas) pelo ano que recém-começava. Daí em diante, só festa...
Nenhum comentário:
Postar um comentário