quarta-feira, 25 de junho de 2008
A mesinha do café
Toda vez que, no trabalho, levanto da minha mesa e vou até a mesinha do café e do chá, acabo dando uma olhada para fora pela janela. Vejo os bosques incrustados no meio dos bairros do Mossunguê, Barigui e Santo Inácio, avisto algumas casas perdidas, um ou outro pedestre caminhando. Na BR277, sempre movimentada, vejo carros indo e vindo. Indo e vindo.
Servindo-me um pouco de chá ou café, vai me dando uma vontade de ir e vir, assim como os carros. Melhor dizendo, de pegar o carro e ir para qualquer lugar e não vir mais tão cedo. É a vontade interminável de viajar, de pôr o pé no mundo. É o famoso bicho carpinteiro. É, em francês, o que costumam dizer le virus de la bougeotte. É aquela vontade de sentir o vento no cabelo, de sentar em uma parada de ônibus qualquer, no meio do nada, que por vezes é conhecido pela alcunha de mundo, onde nem Judas teve coragem de bater as botas, e deixar fluir a conversa com quem quer que seja: homem, mulher, idoso, criança ou cachorro (os vira-latas sempre são parceiros de espera em pontos longínquos).
Não havendo ninguém, fica-se tão-só a pensar.
É, ainda, aquela gana de se ver em um lugar tão desconhecido que não se sabe dizer se a “civilização” está para o norte ou para o sul. Um desejo de ficar ouvindo sotaques, dialetos e línguas diferentes, percebendo os trejeitos, vendo quais são as preocupações mundanas alheias – nessas horas, a única preocupação que se tem é seguir em frente, esperando que nenhuma preocupação mundana o acometa tão cedo. É ficar observando as pessoas e pensar que você não faz parte daquele lugar, mas que tampouco faz parte de lugar algum (viajar te transforma em placeless e worldful). É respirar aquela liberdade, única, que se sente ao estar em lugar completamente desconhecido. Criar raízes te dá estabilidade e faz você se determinar com base no outro (pessoas e coisas). Viajar faz você se determinar pela ausência e, por conseguinte, por você mesmo.
Nisso tudo penso antes de voltar à minha mesa. Dela, não vejo outra coisa que cabeças olhando para computadores ligados e à procura de um ponto final colocado no lugar errado.
Agora, como é que vou explicar tudo isso quando me perguntam por que tomo tanto chá?
Obs.: senhores e senhoras, preciso dizer que ando com problemas com internet, de forma que não tenho podido acessar o blog. Isso não quer dizer, no entanto, que ele esteja parado, coisa que o status dá a entender... Mais histórias virão, asseguro. Há umas duas já no prelo.